As
precipitações trouxeram uma quantidade de água além do esperado. Autoridades
garantem ter planos de contingência
As previsões de chuva para o Distrito Federal têm sido superadas, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMet). Só em novembro, segundo o órgão, o índice pluviométrico foi de 292,8 milímetros(mm), 16% a mais que o esperado para o mês: 253,1 mm.
E agora, em dezembro, diante de aguaceiros e fortes ventos
(60-100 km/h) registrados, que causaram cortes de energia elétrica, queda de
galhos de árvores e alagamentos, entre outros problemas e estragos na região,
foi decretado “alerta laranja”. Esse índice do INMet aponta para riscos
intermediários, devido a uma situação climática específica, à que estão
sujeitos moradores de uma determinada localização, e é o último antes do grau
mais ameaçador: o “vermelho”. Isso levou a Defesa Civil a monitorar,
permanentemente, ao menos duas dezenas de cidades-satélites que aparentam
estar sob maior ameaça.
O Correio falou
com pessoas que têm enfrentado problemas com as tormentas e buscou explicações
de especialista para entender como os danos podem ser neutralizados ou, pelo
menos, reduzidos. E também buscou saber o que as autoridades planejam para
evitar desastres.
De acordo com a Defesa Civil, atualmente existem 22 RAs sob acompanhamento. Nelas há ameaça de erosões do solo, além de deslizamentos de terrenos e inundações. Desse conjunto, se destacam: Sol Nascente, Fercal, Vicente Pires, Sobradinho 2 e Arniqueira.
Castro:
“Tenho medo de a água entrar no meu estabelecimento. Já vi muito estrago aqui
por perto”
Experiência
ruim
“Fiz
uma reforma na minha loja subindo o nível da calçada com medo da água”, contou
Ronair de Castro, 47 anos, dono de uma loja de material de construção no trecho
3 do Sol Nascente. Ele disse que toda vez que chove é uma preocupação. “Mesmo
com essa obra, ainda assim, tenho medo de a água entrar no meu estabelecimento
e perder todos os meus produtos. Já vi a chuva causar muito estrago na região”,
lamentou.
Marlene
de Jesus, 58, é dona de uma padaria também no trecho 3. Ela não esquece da
tristeza em ver seu estabelecimento comercial ameaçado por uma inundação. “Foi
um desespero enorme! Fiquei com muito medo de perder toda a minha mercadoria.
Assim que acabou a chuva, minha loja ficou totalmente tomada pela lama, mas
aindabem que praticamente não tive danos materiais”, desabafou.
Soluções
Frederico Flósculo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB),orientou para a necessidade de uma maior atenção do governo ao planejamento urbano a fim de reduzir dores de cabeça com a chuva. “Isso minimiza impactos com enchentes e deslizamentos principalmente através do zoneamento adequado. Infelizmente, em Brasília, o zoneamento costuma priorizar questões econômicas e comerciais, ignorando as necessidades ambientais”, declarou.
Ele
também apontou que o meio ambiente pode ser um bom aliado: “Para mitigar danos,
é essencial resgatar e respeitar a hidrografia natural, pois ela oferece um
modelo eficiente para o escoamento das águas. Precisamos integrar o
planejamento urbano às soluções da própria natureza, utilizando rios, riachos e
nascentes”, disse.
Nesse
sentido, a Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil — vinculada à Secretaria de
Segurança Pública — informou, por nota, que, além de fazer o monitoramento para
verificar ameaças, tem passado a investir numa maior atenção ao meio ambiente.
A
Defesa Civil ainda disse que atua executando ações preventivas, de socorro,
assistenciais e recuperativas, destinadas a evitar ou minimizar desastres,
apoiando órgãos de emergência, que realizam as primeiras intervenções. Segundo
o Palácio do Buriti, o GDF como um todo estabeleceu uma comissão para
elaboração do “Plano de Prevenção e Enfrentamento às Ações Danosas decorrentes
de Eventos Climáticos no Distrito Federal”.
Lixo
agrava alagamentos
O
alagamento de vias em áreas urbanas no Plano Piloto e cidades-satélites, após
fortes precipitações, em vários pontos de Brasília, se deve ao mau escoamento
da água da chuva para as galerias pluviais. Esse problema resulta, em cidades-satélites,
do descarte inadequado de lixo, que acaba entupindo bueiros.
De
acordo com Serviço de Limpeza Urbana (SLU), até a semana passada, 604.415
toneladas de entulhos haviam sido recolhidas das ruas e avenidas da capital
federal. Ceilândia e Taguatinga são as cidades-satélites, além do Plano Piloto,
em que a prática inadequada mais ocorre, segundo o órgão.
“É
fundamental implementar campanhas educativas que conscientizem a população
sobre os impactos ambientais e sociais dessa prática, incentivando a separação
e reciclagem de materiais”, disse Bernardo Verano, engenheiro de Controle
da Poluição Ambiental.
O SLU esclareceu que, além dos serviços de coleta e de varrição de vias, com constante recolhimento de lixo descartado irregularmente em toda a Grande Brasília, promove ações de conscientização para população. Além disso, este ano, a entidade instalou mais papa-entulhos pelo Distrito Federal.(*Correio)