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GRANDE BRASÍLIA E ENTORNO: Projeto-piloto tenta unir transportes da Capital Federal e cidades circunvizinhas

Publicada em: 18/07/2025 12:22 - Transp. Público

O município de Águas Lindas de Goiás será a cidade-piloto para a integração do transporte público entre o Entorno e o Distrito Federal.

 

A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Governo do Distrito Federal (GDF), Governo de Goiás e da prefeitura local.

A iniciativa prevê a construção de um terminal de integração na entrada do município, além da unificação do sistema de bilhetagem.

O intuito é facilitar o deslocamento diário de milhares de moradores que trabalham e estudam em Brasília, com expectativa de redução de até 30% no valor da tarifa já na primeira fase do projeto.

 

A decisão foi formalizada em reunião realizada no início desta semana, na sede da Secretaria de Transporte e Mobilidade, com a presença de representantes das três esferas envolvidas.

 

 A proposta servirá como base para a futura criação do consórcio interfederativo que unirá os entes federados na busca por soluções integradas para o transporte metropolitano em toda a região. “A ideia é simples e eficiente. O passageiro sairá do seu bairro em ônibus novos, rápidos e seguros, com destino ao novo terminal de integração, que será construído na entrada da cidade. No local, fará a conexão com o sistema de transporte semiurbano rumo ao Plano Piloto ou a outras localidades do Distrito Federal”, explica o prefeito de Águas Lindas, Dr. Lucas Antonietti.

Segundo o gestor municipal, no sentido contrário, os passageiros que saírem de Brasília ou de alguma cidade satélite para Águas Lindas, descerão no terminal e seguirão até seu bairro em um ônibus municipal. “Tudo isso com uma única tarifa integrada e tempo de espera reduzido”.

 

Além disso, Antonietti afirmou que a construção do terminal ficará sob responsabilidade da prefeitura e será executada por meio da Companhia de Desenvolvimento de Águas Lindas (CoDeAL). “Inicialmente, o Terminal de Integração será o ponto principal de baldeação. Mas já estamos estudando a viabilidade de outros terminais estratégicos em outras cidades-satélites. A finalidade é atender toda a cidade com eficiência, evitando deslocamentos desnecessários”, detalhou o prefeito.

 

A expectativa é que o terminal seja o ponto central de embarque e desembarque, com estrutura coberta, banheiros públicos, segurança 24 horas, acessibilidade, sinalização digital e atendimento ao usuário. “Com o subsídio previsto, a tarifa, de maior valor é de R$ 10,85 sem a integração com transporte local, poderá cair até 30%. Será uma mudança histórica, que vai pesar menos no bolso da população”, destacou. Segundo a administração local, cerca de 70 mil pessoas utilizam diariamente o transporte entre Águas Lindas e o DF. A expectativa é dobrar o número de beneficiados, chegando a até 150 mil moradores. “Estamos falando de mobilidade com dignidade. Dar mais tempo de vida às pessoas junto às suas famílias, acordar mais tarde e chegar mais cedo”, defendeu o prefeito. A previsão é que o novo modelo de transporte comece a operar dentro de 90 dias, como parte das comemorações pelos 30 anos de emancipação da cidade.

 Terminais Rodoviários e Urbanos RODOVIARIA NELSON ALVES DE SOUZA em Águas  Lindas de Goiás por Udiston Teles de Oliveira - ID:8630391 - Ônibus Brasil

Região integrada 

Com a proposta de consolidar um modelo de transporte integrado entre o Distrito Federal e os municípios goianos do Entorno, o Governo de Goiás aposta em Águas Lindas como projeto-piloto de um sistema de mobilidade totalmente integrado.

 

De acordo com o secretário do Entorno, Pábio Mossoró, a cidade tem se estruturado e se antecipado às exigências técnicas para implementar a integração por meio do Consórcio Interfederativo de Mobilidade, que envolverá diferentes esferas de governo.

 “Na verdade, não se trata de uma escolha isolada. Águas Lindas tem se antecipado e se estruturado para receber um benefício que será válido para todo o Entorno com a criação e consolidação do Consórcio Interfederativo para o Transporte do Entorno”, afirma Mossoró. Ele destaca que o município tem trabalhado na preparação de um novo terminal e na articulação de estudos para revisão tarifária, em parceria com o GDF.

 

Segundo ele, o objetivo central do Governo de Goiás é enfrentar um problema histórico, a dificuldade de mobilidade entre os municípios goianos e o Distrito Federal. “O Consórcio Interfederativo representa a possibilidade de uma solução conjunta e definitiva para esse desafio”, disse o secretário.

 

De acordo com Mossoró, o projeto não ficará restrito a Águas Lindas. Ele reforça que há um plano de expansão para outros municípios do Entorno assim que o consórcio for formalizado. “Diversos projetos poderão ser desenvolvidos de maneira integrada. Essa visão regional é o que orienta nosso trabalho”, afirma. A atuação do governo estadual também será protagonista. “Por orientação do governador Ronaldo Caiado (Goiás) e do vice-governador Daniel Vilela, o Governo de Goiás será um dos protagonistas da gestão compartilhada com o Distrito Federal. A consolidação do consórcio abrirá caminho para a execução de diversos projetos estratégicos, entre eles, a possibilidade de redução da tarifa, a integração da bilhetagem, a melhoria na qualidade, entre outros”.

 

Para o Jornal de Brasília, a Secretaria de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (Semob-DF) esclareceu que a integração tarifária entre o Distrito Federal e Águas Lindas de Goiás ainda é apenas uma proposta em análise. Segundo a Semob, a reunião realizada no dia 15 foi uma apresentação feita pela equipe técnica do município para discutir uma eventual operação integrada entre as regiões.

A pasta destacou ainda que a viabilidade do projeto depende, entre outros fatores, da participação do BRB Mobilidade, que poderá fornecer o serviço de bilhetagem para Águas Lindas, além da criação de um consórcio interfederativo que deve regulamentar os contratos de concessão. “Ainda não há nada definido”, reforçou a Semob, que lembra também que eventuais descontos tarifários só poderão ser aplicados após a formalização do consórcio interfederativo. “Cabe destacar que qualquer desconto tarifário só poderá acontecer após a criação de um consórcio para a realização de contratos de concessão”, frisou.

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Transporte precário

Morador de Águas Lindas de Goiás há mais de 20 anos, o vendedor Cabonis Santos, 47 anos, relata a insatisfação com o transporte público da cidade, especialmente para quem depende do trajeto diário até o Plano Piloto, em Brasília. Segundo ele, a falta de concorrência limita a qualidade do serviço. “Hoje o transporte é muito ruim porque só existe uma empresa e eles fazem o que querem. Sem concorrência, não tem compromisso com horário nem com o conforto do passageiro”, reclama Cabonis. Ele paga cerca de R$ 10,85 pela passagem e utiliza o transporte todos os dias, de segunda a sábado.

Para ele, a entrada de outras empresas poderia melhorar significativamente o serviço. “Se tivesse mais concorrência, com uma ou duas empresas a mais, certamente o transporte melhoraria”, afirma. Sobre a proposta de integração tarifária e a criação de um terminal para facilitar a conexão entre os ônibus, ele ressalta que o transporte precisa estar acessível para o povo. “Tem que ser perto da população, não longe, porque se for muito distante, vai acabar dificultando em vez de ajudar. Se a gente tiver que andar muito para pegar outro ônibus, não vale a pena”, destacou.

 

Apesar das dificuldades atuais, ele vê com otimismo a possibilidade de redução no preço da passagem e a melhora na estrutura do sistema. “Se a passagem diminuir e o transporte melhorar, vai ser ótimo para todo mundo”, conclui. A engenheira química e moradora de Águas Lindas de Goiás há 20 anos, Natasha Oliveira, 26 anos, reclama da precariedade do transporte público local, principalmente para quem trabalha no Distrito Federal. “Os ônibus são poucos para a quantidade de gente que precisa se deslocar para o DF. Isso causa muitos engarrafamentos na BR-070, e a gente acaba chegando atrasado”, explica Natasha.

 

Ela conta que gasta cerca de R$450 por mês com passagens, utilizando o transporte de segunda a sexta-feira. Sobre o projeto-piloto que prevê a criação de um terminal de integração e a redução de até 30% no valor da tarifa, Natasha diz que ainda não conhecia a iniciativa, mas tem dúvidas quanto à sua viabilidade prática. “Tem que ter mais ônibus, principalmente ter mais empresas, porque só funciona uma empresa aqui. Ter mais opções de ônibus e de horário também”, afirma. Ela defende a ampliação da frota para garantir mais conforto. “Com mais ônibus as pessoas não precisam viajar a pé, o que é muito desconfortável”.

Helena Conceição, de 19 anos, estuda Economia na Universidade de Brasília (UnB) e enfrenta uma maratona diária para chegar à aula. Moradora de Águas Lindas, ela precisa acordar às 4h20 da manhã para tentar pegar o ônibus das 5h20. “Se ele atrasa ou não passa, já atrasa toda a minha rotina. Chegar na UnB a tempo vira um desafio”, conta.

 

Ela usa o passe livre estudantil na Grande Brasilia, mas ainda assim sente no bolso o impacto do deslocamento, visto que, a passagem gratuita não esta disponível para estudantes do Entorno. “A tarifa é de R$ 10,85. Se preciso ir e voltar no mesmo dia, já são mais de R$ 21. Isso passa fácil dos R$ 100 por semana. Sem o apoio da minha família, eu não teria condições”.

Para Helena, o sistema atual desconsidera a realidade dos estudantes do Entorno. “Os ônibus saem de Águas Lindas, passam por Brasília, mas o passe livre não é aceito. Enquanto isso, quem mora no DF não paga. Parece injusto”, lamentou. Embora veja pontos positivos no novo modelo de integração, ela ainda acredita que ele precisa avançar. “Ainda falta olhar pra quem realmente depende do transporte. “O estudante precisa de acesso garantido, com mais linhas, horários e, principalmente, com gratuidade que funcione de verdade”.

 

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