É
o que aponta levantamento do Dieese. Despesas com patrocínio saíram de R$ 7,8
mi em 2018 para R$ 129 mi, em 2023; Sindicato aponta falta de transparência
Contrato de patrocínio com o Flamengo iniciou em 2020 e foi renovado
em abril desde ano até 2026.
De
acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese), entre 2018 e 2023, o Banco de Brasília S.A. (BRB)
aumentou em 1.500% os gastos com patrocínios e ações de publicidade, saindo
de R$ 7,68 milhões em 2018 para R$ 129 milhões para 2023.
O levantamento realizado a pedido do Sindicato
dos Bancários de Brasília é considerado desproporcional, considerando que o
montante equivale a 63% do lucro anual da instituição pública.
Dentre
os principais beneficiários dos patrocínios do BRB está o Flamengo, que recebeu
mais de R$ 153,18 milhões entre 2020 e 2023.
Para
2024, foi previsto um acréscimo de R$ 40 milhões em patrocínio.
Além do futebol carioca, existe também o apoio
ao automobilismo como por exemplo, aos pilotos Lucas Foresti, Enzo Elias e
Gabriel Bortoleto.
Fontes: DODF, BRB, IBGE e reportagem do UOL "Flamengo tem como plano B
oferta de patrocínio de R$ 85 milhões por ano"/ Imagem: DIEESE – Subseção
Bancários DF
De
acordo com o diretor do sindicato dos bancários e funcionário do BRB, Daniel de
Oliveira, o banco tem autonomia para alocar recursos conforme seu planejamento,
mas, na prática, pode ficar submetido aos interesses do governador do DF,
Ibaneis Rocha (MDB). Ele cita como exemplo a relação com o Flamengo, time de
futebol do governante. “Ano passado, o banco gastou milhões com patrocínios e
com o Flamengo, sem incluirmos o marketing”.
"A
principal preocupação é que esses investimentos não estão trazendo o retorno
esperado e o banco está cortando custos em áreas essenciais, como pessoal, não
contratando os aprovados, o que afeta diretamente a qualidade dos serviços e o
bem-estar dos funcionários”, alerta.
Fontes: DODF, BRB, IBGE e reportagem do UOL
"Flamengo
tem como plano B oferta de patrocínio de R$ 85 milhões por ano"/ Imagem:
DIEESE – Subseção Bancários DF
Comparação com outros bancos
De
acordo com o levantamento, os gastos com patrocínios do BRB equivalem a 63% da
lucratividade anual da instituição e supera a soma dos patrocínios dos bancos
estaduais do Espírito Santo, Pará e Rio Grande do Sul.
Em
2023, o Banestes gastou R$ 6,21 milhões de sua receita com patrocínios, o
Banpará gastou R$ 17,59 milhões e o Barinsul gastou 81,41 milhões com ações de
patrocínios. Já o BRB gastou 129,26 milhões de um lucro líquido de 204,88
milhões.
Fontes:
DODF, BRB, IBGE e reportagem do UOL "Flamengo tem como plano B oferta de
patrocínio de R$ 85 milhões por ano" / Imagem: DIEESE – Subseção Bancários
DF
Segundo
a economista Paula Reisdorf, assessora técnica do Dieese, “os outros bancos
estaduais gastam menos de 10%". O Banestes gastou menos de 2%, o Banpará,
6%, e o Banrisul, que é o maior patrocinador de dois grandes times de futebol,
Grêmio e Inter, gastou pouco mais 9%.
Já
o Banco do Brasil, uma das principais instituições financeiras do país, gastou
pouco mais de R$ 155 milhões em patrocínios no mesmo período, representando
apenas 0,46% de seu lucro líquido. Em termos comparativos, em 2023, o Banco do
Brasil obteve um lucro 165 vezes superior ao do BRB, contando com 25 vezes mais
funcionários, mas investiu apenas 1,2 vezes o valor que o BRB destinou a
patrocínios.
Daniel
Oliveira destaca que desse total investido pelo banco, “não incluem os 40
milhões de reais gastos em marketing no ano de 2023”.
Fontes: DODF, BRB, IBGE e reportagem do UOL "Flamengo tem como plano B
oferta de patrocínio de R$ 85 milhões por ano" / Imagem: DIEESE – Subseção
Bancários DF
Atrasos e demandas não atendidas
Segundo
Daniel de Oliveira, os gastos excessivos do BRB afetam os investimentos
necessários em outras áreas da instituição. “Esses gastos têm obrigado o banco
a reduzir custos em outros setores, resultando em falta de pessoal; um sintoma
dessa prioridade equivocada”, explica.
A
categoria dos trabalhadores Bancários esteve em mobilização durante dois meses
até setembro de 2024 por reajuste salarial e aumento da Participação nos Lucros
e Resultados (PLR).
"Na
campanha salarial, os itens financeiros foram os mais refutados pelo banco nas
negociações, e o pagamento da PLR, uma das menores no sistema financeiro, só
demonstra o caminho errado que a gestão do banco está seguindo”, relata Daniel
de Oliveira.
Para
o bancário e dirigente sindical Edson Martins nas negociações, o BRB adotou um
tratamento burocrático durante as negociações. “Houve uma tentativa de
intimidação dos bancários e do movimento sindical com a publicação de um manual
interno retirando o direito à incorporação administrativa da remuneração em
caso de perda de posição no banco às vésperas da primeira assembleia”.
Foram
mais de treze rodadas de negociação com a hierarquia institucional buscando
rebaixar as demandas dos profissionais ativos.
“Os avanços principais vieram depois da
primeira proposta do banco ter sido rejeitada pelo corpo funcional. Apesar do
balanço final positivo, boa parte da pauta dos trabalhadores não foi atendida
ou foi atendida de maneira indireta e genérica”, afirma Martins.
Em agosto, bancários do BRB protestaram contra a intransigência da instituição
financeira na mesa de negociação da Campanha Nacional 2024. / Foto: Ana Bering
Falta de transparência
Para
a economista do Dieese, Paula Reisdorf, uma série de informações
contraditórias ou inconsistentes por parte do GDF foram verificadas ao longo da
produção do relatório. “Identificamos várias falhas na divulgação dos gastos
com patrocínios pelo banco. Além de não incluir o Flamengo como patrocínio e
não divulgar alguns demonstrativos de despesas com patrocínios do Cartão BRB, o
banco frequentemente ajustou os demonstrativos com gastos com patrocínio para
se adequar ao orçamento planejado”, afirma.
Ela
detalha que depois que o banco divulgou o gasto de R$ 24 milhões com
patrocínios no segundo trimestre do ano passado, “ele revisou esse valor para
R$ 15 milhões depois de divulgar os gastos totais do ano, não dando uma
explicação para essa correção. Dessa forma, para não ultrapassar o valor de R$
82 milhões orçados para 2023, o BRB diz ter gasto R$ 81 milhões (não inclui
Flamengo e o patrocínio das subsidiárias)”.
A
economista calcula que “somando os valores originais que o banco disse ter
gastado em cada trimestre, o banco teria gastado R$ 13 milhões a mais em 2023,
ou seja, teria ultrapassado o valor orçado para esse ano. Para o estudo do
Dieese, sempre usamos os valores divulgados mais recentemente, que acabaram
sendo os valores mais baixos”.
No
2° e 4° trimestres de 2023, trimestres em que os dados com patrocínio do Cartão
estão disponíveis, esta subsidiária do banco gastou aproximadamente R$2,1
milhões.
“Se
assumirmos que a Cartão gastou o mesmo valor nos dois trimestres para quais os
dados não estão disponíveis do mesmo ano, o valor total de patrocínios do banco
em 2023 teria sido de R$ 131,4 milhões, em vez de R$ 129,3 milhões, ou seja sem
uma diferença tão significativa para o tamanho do patrocínio do BRB, mas,
sempre seria um valor maior àquele que nós divulgamos”, avalia Reisdorf.
O
relatório do Dieese também informa que “não foram encontrados os demonstrativos
do DODF da Cartão BRB (BRB Card) do 1° trimestre de 2020, dos 2° e 3°
trimestres de 2022 e dos 1° e 3° trimestres de 2023. Por isso, o valor total de
patrocínios poderia ser ainda maior”.
O
Sindicato dos Bancários denunciou os gastos considerados "alarmantes"
ao Ministério Público de Contas do DF. Em resposta ao Brasil de Fato DF sobre
a tramitação da denúncia o órgão disse que a investigação está em andamento sob
sigilo. "A investigação está em andamento sob sigilo e sendo
conduzida pelo Gabinete da Primeira Procuradoria. Caso sejam identificadas
irregularidades, o Ministério Público de Contas do Distrito Federal (MPCDF)
poderá apresentar uma Representação ao Tribunal de Contas do DF. Devido ao
sigilo do procedimento, o MPCDF não emitirá comentários adicionais sobre o
caso", diz a nota.
Plano de expansão
Já
o BRB considera que as ações publicitárias fazem parte de um plano de plano de
expansão nacional da marca, que é alinhada ao Planejamento Estratégico do
banco. "O BRB optou por associar sua imagem a grandes projetos nacionais e
internacionais, concentrando a maior parte do orçamento em ações de
patrocínio”.
Depois
que o sindicato divulgou o estudo do Dieese, o BRB emitiu alguns comunicados
internos justificando o vício em estratégias de marketing mencionando que
gastos com patrocínios são mais baratos do que gastos com publicidade
tradicional.
Entretanto,
Paula Reisdorf questiona que “o banco não vem diminuindo seus gastos com
publicidade tradicional. Entre 2022 e 2023, os gastos com patrocínio aumentaram
83%, os gastos com publicidade tradicional aumentaram também, em 5%”.
O
banco também destaca que, para efeito de comparação do grau de investimento
publicitário do BRB em relação aos demais bancos públicos brasileiros, “basta
dividir o valor investido pelo total de clientes de cada instituição. A média
geral é de R$12 reais. Com R$ 77,7 milhões, o BRB investiu somente R$ 10 por
cliente, conforme informações extraídas dos portais de RI dos bancos”.
Em
outro informe, destaca que "o processo de nacionalização da marca BRB foi
responsável pelo incremento da base de clientes que passou de pouco mais de 600
mil pessoas para cerca de 7,5 milhões em apenas 5 anos. Em linha com o
planejamento estratégico da instituição, o recurso destinado aos patrocínios
trouxe um retorno de mídia de R$ 366,19 milhões contra R$ 77,7 milhões
investidos no ano de 2023".
Questionados
pelo Brasil de Fato DF sobre os patrocínios, o BRB informou em
nota que "as ações de patrocínio e relacionamento do Banco têm por finalidade
fortalecer a marca, fomentar negócios, divulgar produtos e ampliar
relacionamentos com clientes. As ações de patrocínio seguem, ainda, prática do
mercado bancário nacional, os limites da Lei das Estatais e permitiram a
expansão nacional do Banco, hoje presente em 95% de todo o território
nacional".
Entre 2022 e 2023, os gastos com patrocínio aumentaram 83%.
Daniel
de Oliveira considera essa justificativa duvidosa, pois "na base de
clientes que o BRB alardeia não se reflete em uma melhora real nos resultados
do banco. Isso significa que a maioria dessas contas não está ativa e não
realiza negócios com o BRB, os que operam muitos estão nos trazendo prejuízos,
servindo apenas para inflar os números. Além disso, o BRB continua com um
número muito baixo de funcionários, mesmo com o crescimento das agências,
mantendo um quantitativo semelhante de funcionários nos últimos anos".
"Os
R$ 366 milhões que o banco alega como retorno não representam um ganho real,
mas sim o valor que teria sido gasto caso a mesma exposição fosse feita por
meio de publicidade. Na realidade, deixar de gastar não é o mesmo que
ganhar", conclui Daniel.
Paula
Reisdorf analisa que o posicionamento do BRB não esclarece a origem desses
números apresentados institucionalmente, além de recair em problemas de baixa
transparência orçamentária.
“No
ano passado o banco deu um lucro de apenas R$ 204 milhões, o pior resultado
desde 2016. No primeiro trimestre deste ano, o banco deu um prejuízo, de R$ 42
milhões e o banco nem divulgou esse balanço no próprio site, como costuma
fazer, para tentar esconder essa realidade”.
Ela
retoma a comparação com outros bancos e afirma que “considerando os dados de
2023, o BRB deu apenas R$ 27 de lucro por cliente, enquanto o Banestes deu R$
261, o Banpará deu R$ 264, o Banrisul deu R$ 162 e o Banco do Brasil deu R$
448. Por isso, essa comparação com clientes não mostra quão elevado estão esses
gastos com patrocínio”.(*BrasilDeFato)